O antifascismo foi uma resposta ao crescimento do fascismo na Europa durante as décadas de 1920 e 1930. As primeiras experiências antifascistas significativas aconteceram na Itália e na Alemanha, países que tiveram os maiores regimes fascistas da história. Entretanto, o historiador Mark Bray afirma que podemos identificar um movimento “proto-antifascista” na França, no final do século XIX-
No contexto francês, o país vinha sendo agitado pelo julgamento do capitão Alfred Dreyfus, um militar judeu que foi acusado de divulgar segredos militares da França para a Alemanha. A acusação contra Dreyfus era falsa, mas foi um forte indicativo do crescimento do antissemitismo, não só na França, mas em toda a Europa.
Na França foram formados pequenos grupos de defensores de Dreyfus, os quais ocupavam as ruas para se defender de grupos antissemitas que faziam ataques na França. Esse momento francês era um prelúdio do que aconteceria na Europa nas décadas seguintes. Quando o fascismo tomou a Itália e o nazismo avançou na Alemanha, o antifascismo organizou-se.
O fascismo estruturava-se no continente europeu desde a segunda metade do século XIX, mas foram as condições dadas pelo contexto do pós-Primeira Guerra Mundial que permitiram que essa ideologia política se estabelecesse. Os fatores responsáveis pelo surgimento do fascismo foram os ressentimentos com os resultados da Primeira Guerra, a crise econômica que atingiu alguns países, o temor pelo avanço do socialismo e o desejo de expansão imperialista.
Logo após a Primeira Guerra, ergueram-se diversos grupos militarizados com tendências ultranacionalistas, conservadoras e antissemitas. No cenário italiano, Benito Mussolini liderou o Fascio di Combattimento, criado em 1919, e, na Alemanha, Adolf Hitler liderou o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Os grupos antifascistas que surgiram na Itália e Alemanha foram formados por ação de social-democratas, socialistas, comunistas e anarquistas, que encontraram no antifascismo uma forma de se defender do avanço fascista. O antifascismo nesses países foi uma forma de autodefesa porque a violência promovida pelos fascistas contra esses grupos era muito grande.
Nesses dois países, o crescimento das políticas fascistas ocorreu por meio da ação de grupos militarizados que perseguiam e atacavam seus opositores políticos (os grupos da esquerda em geral). Na Itália, a violência fascista foi realizada pelos grupos de camisas-negras, também conhecidos como squadristi. Na Alemanha, por sua vez, essa violência foi realizada pelas tropas de assalto, a Sturmabteilung ou SA.
Essa violência era canalizada contra socialistas, comunistas e anarquistas, principalmente, e o temor de muitos grupos da sociedade com o socialismo, como liberais que faziam parte das classes médias e elites econômicas, fez com que essa violência fosse bem recebida. No entanto, com o tempo, os fascistas ganharam força suficiente para se voltar até mesmo contra os liberais que apoiavam os ataques contra os socialistas.
O antifascismo continuou a atuar na luta contra o fascismo, mas, a partir da segunda metade do século XX, adotou a luta contra a extrema-direita também como parte do movimento. O antifascismo contemporâneo foi dividido por Mark Bray em dois momentos: o primeiro, que se estendeu de 1945 a 2003, e o segundo, que se estendeu de 2003 até a atualidade.
Além da luta contra a extrema-direita, o antifascismo moderno abraçou novas pautas, incluindo ideais antirracistas e anticapitalistas, além de sair em defesa das mulheres e dos direitos dos LGBTIs, etc. Nesse momento, o confronto aberto contra os grupos fascistas e de extrema-direita permaneceu como uma tática empregada em diversos lugares.
Os antifascistas modernos começaram a se inspirar em grupos autonomistas, isto é, aqueles que defendem a autogestão social como forma de organização política da sociedade. A luta antirracista tornou-se um elemento fundamental dos antifascistas, uma vez que, a partir da década de 1960, o fascismo associou-se diretamente com pautas anti-imigração e com grupos de supremacistas.
Foi essa pauta que fez com que grupos como o Asian Youth Movement, o United Black Youth League e o Rock Against Racism surgissem na Inglaterra; o RaRa surgisse na Holanda; e o Anti-Racist Action (ARA), nos Estados Unidos. Alguns desses movimentos tiveram ligação direta com o movimento punk, e o confronto físico contra supremacistas e fascistas foi arma frequente.
A mudança de estratégia dos fascistas a partir do século XXI fez com que essas formas de combate perdessem eficácia, além de ter ocorrido o fortalecimento dos movimentos neofascistas em diferentes locais do mundo.
Atualmente, o neofascismo tem se escondido no populismo de direita. Em geral, os neofascistas negam uma associação direta com símbolos e ideais fascistas, mas, na prática, importam as táticas, defendem os mesmos ideais e secretamente possuem admiração por supremacistas e por figuras conhecidas do nazismo e fascismo.
Na Europa e Estados Unidos, o neofascismo está diretamente ligado com ideais anti-imigração, racistas e islamofóbicos, conquistando muito espaço na política porque, como não há uma associação direta e pública dos populistas de direita com o nazifascismo, muitos não conseguem identificar esse elemento na ideologia dos neofascistas.
Este cenário em que os neofascistas estão em partidos que conquistam o apoio popular e estão legitimados dentro do debate político faz com que as antigas táticas – confronto aberto e a ocupação dos espaços – sejam ineficazes. Alguns grupos antifascistas têm utilizado o doxxing, a exposição de informações pessoais de fascistas, sendo essa uma forma de atingi-los ao demonstrar publicamente sua ligação com grupos fascistas ou neonazistas.
Ainda assim, existe certa dificuldade dos grupos antifascistas modernos em encontrar formas de se combater esse crescimento da extrema-direita e do neofascismo. Apesar de o movimento antifascista ainda ser pequeno em número, a nova ameaça da extrema-direita e do fascismo tem estimulado o crescimento da reação antifascista na Europa e nos outros continentes.